A Importância do diálogo e confiança na relação médico paciente
O conhecimento médico é aprimorado continuamente e a cada minuto são publicados muitos artigos científicos no mundo, porém, a relação médico paciente é a mesma há mais de 3000 anos e, invariavelmente, deve estar pautada em dois elementos muito simples: o diálogo e a confiança.
Não pretendo aqui dar a receita de como cada profissional deve desenvolver seu próprio método para passar confiança ao paciente. Longe de mim tal pretensão. Mas, ao lidar com jovens acadêmicos e residentes, percebo que o foco maior na formação do médico concentra-se no tecnicismo da medicina deixando em segundo plano o humanismo. Humildemente, cito alguns aspectos que ao longo dos meus vinte e poucos anos de profissão, pude notar como essenciais para o desenvolvimento de uma boa relação médico paciente.
Primeiramente, observo que os primeiros anos da profissão são cruciais para o médico aprimorar a forma como dialogar com o seu paciente. Em geral , o médico inicia a carreira em ambientes inóspitos como serviços de pronto atendimento e muitas vezes não tem um tempo adequado para aprimorar essa relação como, por exemplo, a existência de hospitais que não oferecem uma cadeira para o paciente se sentar e, algumas vezes, vários deles são atendidos simultaneamente numa sala com 20 metros quadrados. Esta situação não está limitada ao âmbito da medicina pública, uma vez que há hospitais e consultórios da rede privada onde o profissional vê-se pressionado a atender 6 ou mais pacientes em apenas uma hora. É necessário tomar muito cuidado e não aceitar situações como essas.
Devemos partir do pressuposto ainda de que todos os pacientes são iguais independentemente do nível sócio econômico, uma vez que todos têm as mesmas expectativas e ansiedades.
Neste caso, gestos simples como receber o paciente na porta do consultório com um sorriso e um aperto de mão sincero são o passaporte para que o paciente, que está lhe conhecendo pela primeira vez, se sinta mais à vontade.
A juventude e a ausência de cabelos brancos, muitas vezes, são uma barreira inicial importante nessa relação, porém, serão colocados de lado pelo paciente ao sentir o sólido conhecimento que o médico tem da patologia, externado pela maneira clara e objetiva com que descreve a possível evolução da doença e as medidas adotadas em cada etapa. O segrego portanto é Estude, Estude, Estude !!!
A paciência para ouvir é fundamental. vários pacientes têm dificuldade para dizer a sua queixa principal e podem falar de vários problemas ou omitir vários fatos importantes nos primeiros 15 minutos da consulta.
Quando estiver com paciente muito ansiosos, converse sobre outros assuntos. A consulta médica, mesmo a ortopédica, deve ser longa o suficiente para que o médico conheça um pouco da vida do paciente: onde ele nasceu, qual a origem do seu nome, o que ele gosta de fazer, qual o seu trabalho, perguntas feitas antes do paciente relatar a sua queixa, pequenos gestos que demostram carinho e ajudam o paciente a relaxar e contar o seu problema.
No atendimento do trauma agudo muitas vezes pulamos todas essas etapas, porém, nas dores crônicas a oportunidade de escutar atentamente a história clínica do paciente fornece 50% base do diagnóstico, 30% são fornecidos pelo exame físico e somente 20% são dados pelos exames complementares. Essa relação frequentemente é invertida e a consulta médica fica restrita à solicitação e interpretação dos exames diagnósticos.
É curioso observar que o inverso também ocorre e muitas vezes o paciente chega ao consultório com uma pilha de exames, muitos deles sem relação direta com as queixas. Nesses casos devemos respirar fundo e ver todos eles.
A fé do paciente no seu médico representa uma parcela significativa do poder de cura. O médico tem como missão, dentre tantas outras, desenvolver a arte de fazer com que o paciente acredite na sua cura através da adesão incondicional ao tratamento proposto. E não há outro caminho para o médico conquistar a confiança do seu paciente, senão através diálogo.
Dr. Marcos Britto da Silva
Ortopedista, Traumatologia e Medicina do Esporte
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