Sarcopenia: A visão do fisioterapeuta

O envelhecimento pode ser caracterizado como um processo contínuo de remodelação e perda progressiva de diversas capacidades fisiológicas, com diferentes magnitudes e singularidades nos distintos sistemas, sendo dependente da exposição fenotípica de inúmeros fatores ambientais, além da carga genética que culmina em morte (RASO, 2007). 

Com o envelhecimento da população mundial, vem se tornando comum observarmos aspectos que o acompanham, na maioria das vezes, como a sarcopenia. Vale lembrar que a sarcopenia corresponde à perda de força e massa muscular, que pode estar relacionada diretamente com a idade e a redução de atividade física. 
Em algumas situações ela pode ser secundária a outras condições como desnutrição, imobilizações e doenças inflamatórias. A sarcopenia compromete a qualidade de vida e função de pessoas doentes porém também acomete pessoas saudáveis  em todos os seguimentos da comunidade, que dizer, pode acometer pessoas acamadas ou não, hospitalizadas ou não. 

“A sarcopenia está associada a queixas funcionais e limitações de mobilidade (BAUMGARTNER et al., 1998; LAURETANI et al., 2003; REID et al., 2008), porém, alguns autores sugerem que apenas perdas extremas de massa muscular estejam associadas a incapacidades (JANSSEN e HEYMSFIELD, 2002; Rolland Y et al., 2003). Estudos demonstram que a fraqueza muscular é um forte preditor de incapacidades (Manini et al., 2007; Ploutz-Snyder et al., 2002), estando associada também a um maior risco de mortalidade entre idosos (NEWMAN et al., 2006; RANTANEN, 2003). A potência muscular, que representa a capacidade de produzir força rapidamente, tem sido apontada como outro importante componente da capacidade funcional de idosos (BEAN et al., 2003; CHODZKO-ZAJKO et al., 2009; GARCIA, 2008).” Força muscular pode ser definida como força ou tensão, que um músculo ou grupo múscular consegue exercer contra uma resistência em um esforço máximo. 
A redução da força e da potencia muscular, ou seja a capacidade do músculo de exercer força rapidamente, estão diretamente relacionadas ao aumento do risco de quedas. Várias abordagens tem sido estudadas e usadas no combate à sarcopenia, duas em especial tem sido bastante estudadas nos últimos anos, são elas: o suporte nutricional e a fisioterapia.

“A Fisioterapia é a ciência que estuda, diagnostica, previne e recupera pacientes com distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano. Trabalha com doenças geradas por alterações genéticas, traumas ou enfermidades adquiridas. O objetivo desta área é preservar, manter, desenvolver ou restaurar (reabilitação) a integridade de órgãos, sistemas ou funções. Utiliza-se de conhecimento e recursos próprios como parte do processo terapêutico nas condições psico-físico-social para promover melhoria de qualidade de vida.”
O fisioterapeuta após a avaliação será capaz de estabelecer um programa de exercícios adequado para você de acordo com sua condição clinica e cinetico funcional e dos objetivos traçados juntamente de toda a equipe médica e de profissionais da saúde, por isso cada programa estabelecido é único e personalizado, baseado nas mais altas e atuais evidências científicas. 

  • Diversos testes são realizados à fim de “diagnosticar e mensurar” a sarcopenia, entre eles testes de força muscular, testes específicos de caminhada, entre outros. 
  • A intervenção com movimento, seja na mobilização precoce de pacientes acamados ou no pratica regular de programa de exercícios ativos, tem demonstrado ótimos resultados não só nos parâmetros da sarcopenia, como em outros aspectos, como melhora do humor, melhora de condições cardiovasculares, neurológicas e sociais nos pacientes que conseguem realizar os movimentos de forma ativa. 
  • Dentro dos exercícios que são realizados ativamente, podemos dizer que podem ser divididos em: 
  • assistidos (quando o paciente realiza o movimento, mas precisa da ajuda do fisioterapeuta), 
  • livres (quando o paciente é capaz de realizar o movimento sem ajuda) e 
  • resistidos (quando o paciente é capaz de realizar o movimento sem ajuda do fisioterapeuta, e ainda é capaz de suportar alguma resistência contra esse movimento), 

Esse conjunto de exercícios é denominado de treinamento resistido. 
O treinamento resistido é caracterizado pela realização de contrações musculares ativas contra algum tipo de força externa, como manual, pesos, elásticos, molas, ou até mesmo o próprio peso corporal. 
A contração muscular pode ser ainda estática( isométrica), ou seja, quando não há deslocamento/ movimento do segmento, ou dinâmica(isotônica), ou seja, quando há o deslocamento ou movimento do segmento. Tem como objetivo direto a melhoria da qualidade muscular, ou seja, da força, potência e resistência muscular. 
Cada segmento desse tripé é trabalhado de forma diferente, mas em todos é importante lembrar que a carga imposta seja progressiva e definida de acordo com as capacidades e objetivos terapêuticos individuais. 
O exercício resistido é considerado em alguns estudos, como o estimulo mais poderoso no combate a sarcopenia pois acarreta diversas alterações fisiológicas tais como: aumento da massa muscular, aumento da massa mineral óssea, além de participar da prevenção e controle de doenças cardiovasculares, diabetes, osteoporose, hipercolesterolemia, quedas, também é apontado por estudos como importante fator protetor contra déficits cognitivos. Em uma condição conhecida como obesidade sarcopênica, os exercícios resistidos tem ainda a capacidade de reduzir o processo inflamatório crônico, favorecendo a liberação de substancias antiinflamotorias, tanto pelos músculos em contração como pelo tecido adiposo. Existem indícios de que os idosos podem ter a força muscular imediatamente ampliada após o treinamento, mas os estudos ainda são obscuros nesse campo. Apesar do efeito de hipertrofia das células musculares em idosos submetidos a exercícios resistidos ser menor em comparação aos jovens, os ganhos em qualidade muscular são semelhantes, ou seja, maior força e potência muscular, bem como capacidade funcional, como melhor velocidade na marcha, maio distancia no teste de 6 minutos e no teste de sentar e levantar. Quanto maior a intensidade do treinamento, maior o ganho de força, mas lembre, a carga deve ser progressiva e adequada ao seu momento; e o mais importante, precisam ser contínuos. Os estudos apontam que após a interrupção do treinamento, os músculos tendem a perder os resultados de força, potência, resistência e massa muscular. Portanto, insista! Não desista! Além do treinamento resistido, existem ainda atividades voltadas para o equilíbrio, condicionamento cardiovascular, etc. Nas situações em que o paciente não é capaz de realizar o movimento de forma voluntária ativa, é possível que o fisioterapeuta use o recurso da EENM (estimulação elétrica neuromuscular), que de forma simples, consiste em estímulos elétricos aplicados na pele, na região do músculo escolhido para o tratamento, através de eletrodos (semelhantes aos de eletrocardiograma), conectados à aparelhos específicos. Tais estímulos elétricos, são capazes de realizar a contração muscular, independente da “vontade” do paciente. Cabe ao fisioterapeuta em conjunto com a equipe determinar as condições clinicas e o melhor momento de iniciar esse tipo de terapia. De forma resumida movimento (“voluntário ou induzido”) é um grande “remédio” para tratar a sarcopenia. 
“Envelhecer é uma certeza. Envelhecer bem, é uma escolha.” Abilio Diniz
 - 83 anos 
Movimente-se e comece já!
Por Cátia Souza
Fisioterapeuta

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